Guitarrismos

Mês: maio, 2015

5 posições x 7 posições: qual o melhor método?

Todo guitarreiro que se preze já estudo os métodos de cinco ou sete posições em algum momento de suas vidas. Todo mundo já teve pelo menos um método ou apostila com esses padrões, e passou horas e horas praticando escalas e exercícios de memorização. Agora, se isso foi útil, produtivo ou bom em algum nível, são outros quinhentos.

Basicamente, são padrões (ou patterns, como os americanos chamam) de escalas que cobrem todo o braço do instrumento.

Existe um debate acalorado sobre a eficiência dos métodos de visualização e realização das escalas sobre o braço. Normalmente, quem está acostumado com um normalmente nem chega perto do outro.

Mas o fato é que ambos são eficientes, cada um à sua maneira.

5 Posições

Esse padrão de escalas deriva do método CAGED. Das cinco formas básicas de acordes, é possível construir suas respectivas escalas maiores e pentatonicas (aqui tem um bom diagrama dos padrões). É só acrescentar as notinhas certas. Como essas formas todas se encaixam entre si, é possível cobrir todo o braço do instrumento

O grande barato desse esquema de cinco posições é que ele sobrepõe acordes, escalas maiores e pentatônicas. Estudando direitinho, dá pra aprender os três de uma vez, de forma bastante eficiente. E depois fica mais fácil passar para as escalas menores (pois são relativas) e escalas construídas sobre acordes diversos: basta adicionar, deslocar ou retirar semitons das pentatônicas ou escalas maiores.

Além disso, esse esquema é comodo para modulação em quartas e quintas (na real, as quartas são um pouco mais comodas que as quintas). Dá para passar pelas doze tonalidades numa única região, só trocando as formas.

Eu diria que é um esquema enxuto, que nos permite adicionar coisas à medida em que vamos precisando delas.

7 Posições

Esse padrão também deriva do CAGED, mas tem uma outra pegada. Aqui, o braço da guitarra é dividido em sete formas de escalas e acordes, uma para cada grau da escala maior – aqui tem um link com os diagramas desse mapeamento.

Cada forma de escala começa em um grau, e herda o nome do modo grego correspondente. Apesar disso não implicar em modalismo, essa maneira de visualizar e pensar o braço já facilita a vida do guitarrista se ele resolver pensar diretamente na aplicação de escalas modais – Mixolídio sobre acorde dominante com sétima, Dórico sobre menor com sétima, etc.

Além disso, alguns shapes são mais cômodos que os do CAGED original, envolvendo um pouco menos de “finger stretching” (esticamento de dedos) para fora daquele espaço mais cômodo de quatro casas do braço do instrumento – os shapes dos modos frígio e lócrio são incrivelmente práticos.

Para se chegar nas escalas modais, é ainda mais fácil, pois é só deslocar um grau ou outro. Por outro lado, para se chegar numa pentatônica, é preciso retirar notas das escalas – ou aprender o CAGED, o que daria mais trabalho

Qual mapa é melhor?

O melhor esquema é aquele que te permitir fazer o que você quiser de forma mais eficiente.

Comecei minha vida guitarrística estudando pelo CAGED, e depois passei pro método de sete posições quando comecei a estudar jazz e improviso. Hoje eu voltei ao CAGED, e estou fazendo uma revisão mais rígida desse método. Ainda assim, eu automaticamente aplico coisas do método de sete posições que facilitem a minha vida.

A recomendação que eu dou é estudar e entender os dois métodos, e tirar de cada um deles o melhor que eles puderem oferecer.

A nota azul

Tradicionalmente, o termo “Blue Note” – que traduziríamos como “nota azul”, se fizesse sentido em português – é o nome dado a determinadas notas cromáticas de algumas escalas.

O nome deriva do blues, aquele estilo de música popular norte-americana que é um dos pilares da música ocidental de hoje (Pop, Jazz, Hip hop, Rock, R&B, etc. Tudo isso deriva do Blues). E, no blues, essas notas dão aquela sonoridade, aquele colorido tão específico que fazem justamente o blues soar como blues. Daí o nome.

Grosseiramente, qualquer nota de fora da escala que produz uma sonoridade assim poderia ser considerada uma blue note. É tudo cromatismo, afinal de contas.

Mas, na prática, a blue note é a terça menor, a quarta aumentada ou a sétima menor adicionadas às escalas.

Não dá pra falar da nota azul sem falar de escala pentatônica.

Ok. Teoricamente, daria para encaixar os cromatismos da blue note em qualquer escala adequada. Mas o fato é que essa notinha brilha mesmo no contexto harmônico e melódico das escalas de cinco notas.

c-major-minor-pentatonic-scales

As escalas pentatônicas são construídas da mesma forma que as demais escalas diatônicas, por meio de empilhamento de notas obtidas ao longo do ciclo das quartas/quintas, deixando de fora os graus do trítono. No caso da pentatônica de Dó maior, teremos Dó, Sol, Ré, La e Mi, deixando de fora o Fa (quinta abaixo do primeiro grau, Dó) e Si (quinta acima do terceiro grau, Mi). Ficam cinco notas. Daí o nome da escala.

Por não possuírem um trítono, essas escalas tem uma sonoridade muito pouco polarizada e funcional – ou pelo menos bem menos que as escalas diatônicas maiores. Repare que todas as notas estão separadas por um intervalo de um tom ou um tom e meio. Não há semitons, e por tabela, não há notas que tendam a resolver em outras nem que soem muito dissonantes entre si quando articuladas juntas.

A pentatônica maior tem esse nome porque deriva da escala maior, sem o quarto e o sétimo graus da escala. Teremos uma tônica (que não é bem tônica, mas isso é um assunto para outro post), o segundo, terceiro, quinto e sexto graus. Em Dó, teremos Dó, Ré, Mi, Sol e Lá.

A pentatônica menor é obtida da mesma forma que as demais escalas menores, através da escala relativa. No caso de dó, teremos a relativa pentatônica menor de Lá, com Lá, Do, Re, Mi e Sol. Repare que, neste caso, teremos graus diferentes: uma tônica, um terceiro grau menor, o quarto, o quinto e o sétimo grau menor.

Pode comparar na figura acima.

Em teoria, estas escalas sem semitons, trítonos e tensões a serem resolvidas seriam o paraíso da harmonia: tudo já estaria pré-resolvido, sem notas complicadas para se evitar ou resolver.

Aí alguém vai e coloca aquele cromatismo, aquela sujeirinha bem no meio da escala. =)

O Sexto Elemento

A blue note é uma nota cromática adicionada à escala pentatônica. Dessa adição, nasce a escala blues (maior e menor). Assim se você vir este nome, ou “Penta Blues” em algum vídeo, método ou texto, não se assuste: é a boa e velha pentatônica que você já toca com a blue note explícita (e que provavelmente você já toca também).

Nas escalas maiores, ela é a terça menor adicionada. 

major-blues-scale-example-1

Não, não temos uma escala com duas terças. Mas sim, temos uma escala com “duas terças”.

Nas escalas menores, ela é a quarta aumentada (ou quinta diminuta) adicionada.

c-major-minor-blues-scales
Repare que a blue note não muda quando passamos de uma escala para a sua relativa maior ou menor. A blue note de dó maior (que é o Eb, terça menor) será a blue note de La menor (no caso, Eb novamente, só que dessa vez como quarta aumentada). Isso significa que as fôrmas de uma escala servem para a outra perfeitamente, sem necessidade de alterações na digitação.

Por outro lado, o contexto e a função das notas é outro. A blue note muda, mas não muda.

Como usar

Teoricamente, segundo os manuais de improviso:

  • A penta e a blues maiores podem ser usadas sobre os acordes maiores (Maj7, Maj9 e 6) e dominantes com sétima. A tríade maior da escala bate com a do acorde, e como ela não tem sétima, não há tensão gerada.
    No caso dos acordes com sétima maior, há possibilidade de tensão com a sexta maior da escala. O mesmo acontece com a blue note em relação ao terceiro grau do acorde maior, separados por um semitom. Dá pra usar, mas é preciso ter cuidado e saber resolver as notas de tensão.
  • A penta e a blues menores podem ser usadas sobre os acordes menores com sétima (m7, m9, etc.)
  • Ambas escalas podem ser usadas, teoricamente, sobre tonalidades inteiras (C pentatonica sobre C maior, Am pentatonica sobre A menor, etc.) Obviamente, isso só funciona se todos os acordes de uma progressão pertencerem a uma única tonalidade.

Entretanto, há algumas coisas que os manuais nem sempre recomendam mas as pessoas fazem assim mesmo, com o devido cuidado:

  • Há quem use uma penta menor contra um acorde maior, explicitando a tensão entre os terceiros e sétimos graus, que serão maiores nos acordes e menores na escala. Haverá tensão, use por sua própria conta e risco.
  • É possível usar pentas menores sobre acordes dominantes. Todas as notas dessa escala fazem parte das escalas de acordes dominantes, tirando a terça menor. E esta pode ser articulada e resolvida de forma que funcione dentro da harmonia dominante.

Basicamente, é isso.

Pentatônicas são muito práticas de se utilizar. Por conta da sua construção, elas raramente falham, e por isso mesmo meio que viraram o feijão com arroz do improviso guitarrístico.

O problema é que, como todo clichê, elas ficam gastas e perdem parte da sua mágica. Usar uma escala pentatônica de forma interessante e original é um puta desafio.