Dos motivos pelos quais os livros não oferecem tudo, capítulo 165233
O Mark Levine (pianista de jazz e autor de algumas bíblias sobre o assunto) nos fala dos primórdios do Jazz, sobre o estilo de improvisação dos instrumentistas da época – bota aí algo em torno de 1920-1930.
Basicamente, eram três os pilares da forma de improvisação da época: ouvido, instinto e experiência.
O que acontecia é que a galera que estava então fundando o estilo não tinha uma formação musical tradicional e escolarizada. Não havia coisas como a Berklee ou a Juilliard voltadas para o Jazz. Havia o ensino erudito, mas ele fazia parte de um mundo culturalmente alheio ao Jazz (e vice-versa).
Aprendia-se na rua tocando com as gigs e construindo o conhecimento sobre o assunto aos poucos. Isso explica, em parte, os vieses da teoria do jazz sobre a maneira clássica de se entender música (e vice-versa).
Aos poucos, o nível da galera foi subindo. Muita gente buscou uma educação formal para juntar à bagagem de conhecimento musical, e isso foi sendo passado adiante ao longo do tempo. É justamente aquela época em que o jazz começa a ficar mais complexo e cerebral, no melhor e no pior sentido do termo.
Hoje, qualquer um que se meta a estudar um pouco de improviso já dá logo de cara com aplicação de escalas específicas sobre acordes. Coisas do tipo “sobre o acorde X toque a escala Y e evite a nota Z”. Tudo bem mastigadinho e prático – o que é muito bacana, diga-se de passagem. Isso poupa um tempo absurdo e joga o aluno lá pra frente bem rápido.
Só que esse método atual, bastante acelerado em relação ao de tentativa e erro usado no passado, não resolve tudo, justamente por não oferecer ao músico a experiência de aprendizado de dentro da gig, testando idéias harmônicas e melódicas ao vivo e em tempo real. Ele é eficiente pontualmente, em fazer o aluno tocar rapidamente escalas sobre acordes ou o contrário.
Desenvolver linguagem, entretanto, é um outro departamento.